terça-feira, 28 de outubro de 2014

Welcome to the Hotel California

Esse conto faz parte de um desafio que fazemos no grupo “Escritores Desconhecidos” no facebook onde a galera aqui do ONE tem se reunido. Junte-se a nós!
Os trechos da música do Eagles ficarão em itálico.

Deixo a música traduzida caso queira conferir a letra antes:

<iframe width="560" height="315" src="//www.youtube.com/embed/pPf9pn2TR9k" frameborder="0" allowfullscreen></iframe>

Hotel-California-19-kevinandamanda

Os faróis de um Mitsubishi conversível romperam a escuridão da estrada, onde antes reinava apenas o neon azul da placa do hotel. Felder estacionou meio relutante, pegou o celular, mas não tinha sinal. Passar a noite ali ou dormir no carro eram as únicas alternativas. Abriu a carteira e não gostou do que viu. “Droga! Esses hotéis que ficam no meio do nada custam o olho da cara”, pensou.

Fechou a capota, abaixou o banco, ligou uma música do Eagles e para relaxar acendeu um baseado. Estava quase dormindo quando sua visão foi preenchida por uma jovem parada na porta do hotel. Era maravilhosa. Seus cabelos loiros iam até a cintura, mesmo a distância os olhos verdes brilhavam, o corpo era esbelto e ficava muito atraente no vestido branco. Ela sorria. Não um sorriso normal, mas algo que preenchia o vazio que existia dentro dele, que o levava a pensar nos momentos mais maravilhosos da vida, ela também segurava uma vela o que lhe dava um ar angelical.

Rapidamente desligou o som pegou a carteira, mas quando abriu a porta ela tinha sumido.

— Seja bem vindo ao Hotel Califórnia, senhor. — Falou o recepcionista quando ele entrou no recinto. Era um homem negro, de terno e um chapéu que tampava os olhos. — Deseja ver nossos preços?

—O senhor viu uma moça loira? — Apenas isso importava naquele momento para Felder.
— Ah, fala de Laura. Sim, ela está no baile. Encantadora não?

— Laura… Baile?

— Todos os anos no “Dia de Todos os Santos” fazemos um baile à fantasia para os hóspedes, se o senhor for ficar encontrará no guarda-roupa algumas fantasias.

Felder subiu as escadas conforme indicara o recepcionista entrando em um longo corredor. A decoração era clássica, papel de parede listrado em cores mornas e com várias fotografias de pessoas em molduras de madeira. Observou um a dessas; mostrava quatro homens que pareciam serem grandes amigos, sorriam abraçados em frente a um dos quartos do hotel. Uma legenda falava: “ Glenn Frey, Don Henley, Bernie Leadon e Randy Meisner.”

Leu uma pequena placa: Quarto 112. Pegou as chaves, notou que ao lado da porta havia o que fora um retrato, estranhamente as pessoas tinham sido recortadas ficando apenas duas silhuetas na moldura.

— Welcome to the Hotel California — sussurram diversas vozes no corredor vazio. O arrepio fez com que abrisse a porta do quarto rapidamente e se trancasse.

Atribuindo as vozes às alucinações e à qualidade do cigarro de maconha que comprou com alguns brasileiros, ele se acalmou, abriu o armário e escolheu a fantasia de Zorro.

Depois de um banho gelado saiu do quarto mais tranquilo, dessa forma observou como o local era belo e preenchido por uma atmosfera de mistério.

— Welcome to the Hotel California. — Os sussurros ecoaram novamente.

— Such a lovely place. — Felder pegou-se respondendo.

— Any time of year you can find it here. — As vozes responderam em um tom de sorriso.
Em prol de sua sanidade ignorou isso. Não se importava; apenas a linda mulher ocupava seus pensamentos e desejos desde que chegara ao local.

Desceu seguindo o som de uma valsa, dobrou um corredor e deparou-se com um grande salão de festas, estava lotado. De início ficou parado na porta impressionado, pois o pequeno prédio visto de fora de forma nenhuma demonstrava ter um ambiente tão enorme. Luminárias douradas pendiam no teto, cortinas brancas estavam nas paredes e por todo lado pessoas fantasiadas dançavam felizes, era como se tivesse sido transportado para outra época.

E lá estava ela. Dançando com vários rapazes em volta. Felder foi ao bar e pediu:

— Por favor, traga-me vinho.

— Desculpe, nós não temos essa essência desde mil novecentos e sessenta e nove.

— Hã? — Mil novecentos e sessenta e nove? Vocês precisam rever seus fornecedores. Então me traga um whisky . — Ele sequer olhava para o atendente, estava completamente fixado nos movimentos dela e no olhar retribuído sempre que ela executava um gracioso giro.

— Ela é inebriante, senhor. Rouba completamente o juízo. Aconselharia não se deixar envolver.

Felder bebeu a dose em um gole e foi andando, os dois se olhavam de forma tão intensa que um vácuo de pessoas foi aberto quando se encontraram. Ele tocou a mão dela e ela não resistiu quando foi segurada pela cintura. Felder sentiu o perfume e cada parte do corpo de Laura quando se abraçaram. Ela podia escutar as batidas do coração dele. Trocaram poucas palavras e insignificantes para o momento, os lábios eram imã e metal e assim beijaram-se carinhosamente, apaixonadamente, intensamente e por fim, fogosamente.

Sequer percebam quando saíram do salão, entretanto, agora estavam no quarto dele, despidos em um prazer avassalador que arrancava a noção de vida fora dali. E assim passaram dias, semanas, meses ou talvez apenas horas; não sabiam, sequer lembravam-se do tempo.

Ele tinha acabado de tomar banho e se vestia quando escutou a confusão. Homens arrastavam Laura escada abaixo. Saiu em desespero na captura e encontrou uma confusão generalizada. Pessoas corriam por todos os lados, impressionou-se com a quantidade de gente ali, certamente não tinha espaço suficiente para todos. De onde saíram? Não ia perder-se em indagações quando a mulher da sua vida corria perigo.

— Me soltem! — Escutou Laura gritando enquanto empurrava as pessoas na escada para conseguir espaço para passar.

— É nossa chance de sair, Laura. — Alguém respondeu.

— Matem a besta! — Um homem gritou logo atrás de Felder.

Ele finalmente venceu a multidão e chegou à portaria. Laura correu e o abraçou. Sentiu um alívio inigualável seguido de raiva. Parou para ver o que ocorria. Quatro homens estavam com facas cercando o recepcionista que sorria por baixo do grande chapéu.

— O que está acontecendo? — Perguntou.

— Vamos sair daqui. — Pediu Laura.

— O que está acontecendo?

— Dia de Todos os Santos, é o único dia em que pode haver libertação. Glenn , Don Henley, Bernie e Randyr vão tentar.

— Libertação de quê, Laura?

—Vamos sair daqui.

Felder cessou os questionamentos quando a briga começou. O recepcionista não esboçava reação, pelo contrário, segurava duas facas de braços abertos em uma posição provocadora e ostentosa. Os homens avançaram, começaram a esfaqueá-lo, eram os maiores e os mais fortes da multidão e mesmo com o recepcionista no chão continuaram o massacre. Por fim, se afastaram e a multidão gritou.

Quando o primeiro tentou passar por ele em direção da porta uma faca cortou-lhe a perna e em seguida entrou no coração. O recepcionista levantou. O corpo desfigurado estava se curando. Tirou o chapéu e Felder deu um passo para trás junto com toda a multidão.

Não havia face, onde devia existir os dois olhos, tinha apenas cicatrizes. Rapidamente com as duas facas ele derrubou os outros três. Os corpos deles começaram a desintegrar na frente de todos, virando uma fumaça negra, sendo tragada pelo recepcionista e logo em seguida cuspida em uma moldura vazia.

— Você está certa vamos sair daqui.

Buscou a mão de Laura, porém ela não estava mais ali. Virou-se para procurá-la, mas para sua surpresa o monstro recepcionista estava parado na sua frente com as facas na mão.

— Se você quiser pode ir embora, Felder. Não te impedirei. — Disse sorrindo.

Com medo e os olhos fixos nas facas ele deu um passo em direção da porta. O recepcionista não se moveu, no entanto, falou:

— Você vai deixar ela? — Apontou para Laura.

— Laura, venha!

— Desculpe, não posso.

— Por quê? — Laura se aproximou dele, acariciou seu rosto e falou:

— Nós todos somos prisioneiros aqui, por nossa própria conta.

Ele não entendeu, porém não teve tempo de perguntar. Uma faca atravessou-o. Gemeu, sentiu sua vida escorrendo, porém o mais doloroso é que era Laura que  segurava a arma. Ela chorava, observou.

O recepcionista se aproximou:

— Você pode registrar a saída quando quiser, mas você nunca vai partir.

Felder viu a luz da vida sumir e rendeu-se.

No outro dia, um carro parou em frente ao hotel. Carla estava registrando-se quando seus olhos encontraram outros azuis. Ficaram um tempo olhando-se e ela deixou escapar um sorriso.

— Welcome to the Hotel California. — Teremos um baile à fantasia hoje à noite, no guarda-roupa encontrará algumas. Podemos contar com sua presença? — Meio sem graça ela respondeu:

— Claro que sim, adoro bailes. — Quando ele saiu ela perguntou:

— Ele trabalha aqui?

— Não, é um hóspede fiel. Aqui está moça, quarto 112, boa estadia.

— Obrigada.

Entrou pelo corredor e observou a decoração. Ao abrir a porta parou diante de um quadro. Era ele, o lindo homem que conversara com ela na recepção, na foto ele abraçava uma loira encantadora e a legenda dizia: “Felder e Laura”.

— Aff casado, só podia ser.

 Welcome to the Hotel California. — Vozes sussurradas vindas dos quadros causou pânico nela paralisando-a. No entanto, assustou-se ao responder sem saber como:

— Such a lovely place. — As vozes em som de sorrisos disseram:

— Any time of year you can find it here.

Ela abriu a porta rapidamente, trancou-se, respirou fundo e para tentar esquecer tal loucura abriu o guarda-roupa e começou a escolher uma fantasia.

Resenha “O Olho do Mundo” de Roberto Jordan - 1º Livro da saga "A Roda do Tempo"

“O Olho do Mundo” de Roberto Jordan Livro 1 da série “A Roda do Tempo” Gênero: Alta Fantasia Páginas: 800 Editora: Intrínseca Link para com...