domingo, 1 de fevereiro de 2015

O Reino dos Animais

Conto escrito e dedicado á Maria Clara. A minha leitora mais nova, literalmente. Ela me deu o título, o personagem principal e falou para escrever algo. Espero que tenha ficado legal. Abaixo a Maria Clara lendo meu blog e fazendo sua mãe, Jú, interpretar o conto. rsrs


Por Jefferson Nóbrega

— Lobinho, lobinho, se feiura doesse tua mãe vivia uivando. — Disse Quito no ouvido do lobo mais perigoso de todos e saiu voando.

Laicão, o líder da cruel matilha que governava às Terras Escuras pulou alucinadamente tentando morder e devorar o pequeno pássaro, mas Quito era ágil e zombava do lobo. Ficou desviando e provocando o lobo até que escutou um bater de grandes asas; era ele, o Gavião, um pássaro cruel e sanguinário. Dessa vez Quito não subestimou e fugiu rapidamente, o Gavião mergulhou em um voo rasante e suas garras afiadas quase agarraram Quito, mas ele foi passou pelos arbustos até sumir da vista da ave de rapina assassina. Já fora das Terras Escuras, Quito gargalhou de mais uma aventura.


Quito, era um periquito, seus pais não eram muito criativos com nome como podem perceber, tanto que seu irmão, que infelizmente morrera na guerra, chamava-se Peri. Mas, Quito tinha muitos apelidos: Quito O Maluco, Quito Sem Noção, Quito Comida-de-Lobo, Quito O Ousado, esse último ele mesmo dera.



Ele vivia no que restara do antes magnífico Reino dos Animais. Governado pelo leão Leo, o reino era um lugar maravilhoso de se viver, muitas árvores frutíferas, rios refrescantes, animais felizes vivendo suas vidas. Até que, a matilha de lobos sob o comando do cruel, Laicão, armaram uma armadilha e prenderam o Rei. No dia do aniversário da Leoa Mãe a matilha atacou, Leo saiu em perseguição dos lobos e a última vez que fora visto estava na região das cavernas, depois disso não se teve mais notícia e, Laicão passou a governar o Reino dos Animais. Em pouco tempo tudo foi destruído, as frutas acabaram, animais fugiram ou foram mortos, as árvores secaram, até as nuvens ficaram negras, o lugar passou a ser chamado de Terras Escuras. Laicão e seus lobos formaram um exército com outros animais maus. Hienas, serpentes, Gaviões, Carcarás, Escorpiões e todo tipo de bicho. Dessa forma fizeram dos outros escravos, porém alguns conseguiram fugir para outra floresta , como a família de Quito.


— Você ainda vai ser morto, Quito — disse a coruja Atena.

— Não vou deixar aqueles lobos em paz.

— Você me lembra muito seu irmão, ele também não aceitava a ideia de não lutarmos e, acabou sendo devorado pelo gavião.

— Isso também não vai ficar assim, Atena. Um dia acertarei as contas com aquele gavião.

— És um pássaro pequeno, mas de grande coragem.

— É um idiota — a andorinha, Dora entrou na conversa. — Fica fazendo essas babaquices e deixando seus pais preocupados. Não vai demorar muito e será devorado.

— Não irei, intrometida. Eu tenho um plano.

— Que plano? — perguntou Atena.

— Não posso falar, mas nem que eu morra tentando, algum daqueles vilões vão pagar por todo mal que tem feito.

— Se eles pagarão não sei — disse Dora — mas, que você morrerá tentando é certeza.

— Quer saber? Deixem-me em paz!  — Quito, voou para casa.

Naquela mesma noite a matilha e seus aliados atacaram a reserva onde Quito morava. Os animais fugiram em desespero, os elefantes maus saíram derrubando as árvores, gritos eram ouvidos por todos lados. Mesmo com todo o terror alguns animais corajosos ainda lutaram. Quito foi um deles, atacou com toda a coragem, mas sua força era insignificante. Quando Laicão o viu, bradou a ordem:

— Matem esse maldito periquito!

Quito bateu as asas com força para fugir, mas foi acertado pela tromba de Julius, o maior dos elefantes. Foi jogado contra uma árvore e caiu sob um galho, tentou voar novamente, porém sua asa estava quebrada. Foi nesse momento que viu o gavião sorrindo, o mesmo que matara seu irmão, agora investia com tudo. Quito viu suas terríveis garras se aproximarem e se preparou para morrer, mas o Gavião foi atingido e desviou o caminho. Dora e Atena voavam contra o terrível inimigo.

— Dora, Atena, fujam! Me deixem e fujam! — gritou.

No entanto, as duas aves mesmo em força inferior lutavam contra o gavião que parecia divertir-se com a situação. Atena gritou:

— Mico, leve ele daqui.


Assim o Mico arrastou Quito para dentro de um buraco na árvore e de lá eles viram o gavião rasgando as asas de Atena e indo embora com Dora em suas garras. O periquito entrou em desespero, gritou, mas não podia fazer nada, por fim desmaiou de dor.

Quando despertou estava em seu ninho, sua asa sendo tratada por sua mãe.

— Não se mexa, querido. Logo ficará boa, mas precisa repousar.

— Atena e Dora? O que aconteceu?

A mãe dele apenas abaixou os olhos com tristeza.

Quito passou semanas e se recuperou, porém apenas fisicamente. Seu espírito estava abalado. Culpava-se pelo ataque dos lobos e não se perdoava por isso. Mesmo bom não saiu do ninho em nenhum momento. Sabia que Atena estava viva, mas muito mal. E não tinha coragem de encará-la. Pensar em Dora o fazia chorar, a andorinha fora levada e nunca mais ninguém tinha tido notícias.

Em mais um dia vendo o amanhecer, Quito escutou gritos, seu instinto o fez ir em socorro e encontrou o cervo chorando.

— O que aconteceu Vanda?

— Eles levaram meu filhote.

— Com assim? À luz do dia?

— Desde o último ataque eles têm vindo aqui a qualquer hora. Laicão declarou que essa reserva e território dele agora.

— Maldito lobo!

Quito saiu em disparada e nem escutou o chamado de Vanda. Todos os animais paravam o que estavam fazendo para vê-lo passar em um voo furioso. Há mais de um mês não o viam daquela forma e se espantavam ainda mais ao ver a direção que ele tomava. O periquito estava  indo com todo furor na direção das Terras Escuras.

— Quito! — Quando escutou a voz de Atena, ele parou, foi até o ninho dela.

— Minha amiga, me desculpe, mas não tive coragem de visitá-la, a culpa foi minha. — Quito segurou-se para não chorar ao ver que a amiga tinha perdido uma asa e a outra estava pela metade.

— A culpa é nossa, Quito. Quem não faz nada para impedir o mal é tão culpado quanto quem o pratica. E nesse caso você é o único inocente. Conheço esse olhar e esse voo, sei para onde está indo, não vou tentar impedi-lo, só peço que tome cuidado.

— Tomarei minha velha amiga.

— Sabe que é loucura tentar fazer alguma coisa só?

— Mas, quem disse que estou só, Atena? Estou com  Dora, com meu irmão, com o filho da Vanda, com Leo e com todos que perdemos.

— Boa sorte, amigo.

— Há algum tempo eu descobri algo importante que poderá mudar tudo. Sei que posso fazer, porém não sei se sobreviverei. Se eu não voltar diga aos meus pais que amo eles. Espero que um dia se orgulhem de mim.

—Não se engane Quito. Eles têm muito orgulho. Agora vá, não deixe essa chama apagar.

Quito despediu-se e partiu, logo estava nas Terras Escuras e foi baixo e rápido. Laicão estava deitado, comendo carne, quando viu o ser que mais odiava pousando na sua frente.

— Olha quem está aqui — disse o lobo — É muita ousadia ou vontade de morrer.

— Seu lobo idiota! Quem você acha que é para atacar nossa reserva?

— Olha pra você. Uma ave insignificante. O que pretende fazer?

Antes que o lobo fechasse a boca o pequeno bico de Quito cravou-se no olho do lobo que uivou alto fazendo com que seus capangas entrassem na caverna. Os outros lobos da matilha pulavam tentando devorá-lo, porém Quito acertou mais dois lobos no olho. Laicão deu a ordem:

— Gavião, peque esse pássaro e traga-o vivo, ele será meu almoço! 

Quando escutou o bater das grandes asas o periquito saiu da caverna. O gavião investia e Quito ia usando os arbustos e as árvores para escapar. Duas vezes o gavião se chocou contra galhos o que lhe dava ainda mais ódio. Na segunda vez que bateu em um galho ele caiu, o que fez com que Quito pegasse uma boa distância. Mas, o gavião era rápido e o alcançou. Quito se lançou em direção do chão novamente, mas encontrou o elefante Julius no meio do caminho. Sua tromba quase o acertou, porém Quito pousou bem na sua cabeça.

— Vem seu gavião idiota! — gritou.

A ave acelerou seu voo e mirou suas garras contra Quito que ficou só observando. Foi tudo muito rápido. Quito pousou na cabeça do elefante esperou até o último segundo e quando o gavião estava para agarrá-lo ele voou. Com isso as garras afiadas do gavião cravaram-se na cabeça do elefante. Julius no susto agarrou o gavião com a tromba e bateu ele duas vezes no chão com toda a força.

O gavião ficou espatifado e gemendo no chão. Quito pousou em sua barriga:

— Isso foi pelo meu irmão, por Dora e Atena.

Nesse momento Laicão e seus lobos surgiram.

— Julius seu idiota! Amasse esse periquito ou você será nosso almoço!

Quito partiu em disparada com o grandão atrás dele. O elefante ia derrubando as árvores e jogando galhos com a tromba, porém Quito era ágil e ia desviando. Não contente diminuía a velocidade e zombava do elefante, fazendo com o que o grandão ficasse com mais raiva.

— Você já era passarinho! — gritou o elefante quando viu o cenário.


O elefante estava agora na descida de uma colina, os lobos viam logo atrás, com seu peso ele ganhava velocidade e à frente tinha uma gigantesca rocha que serviria como muralha. Escutou Laicão gritando atrás para que ele parasse, mas agora não tinha mais jeito. Julius estava em toda velocidade e sabendo e Quito não conseguiria voar sobre a rocha, assim seria esmagado por seu peso. Quito não deu sinal de que iria parar e quando a rocha chegou bem perto ele se lançou contra ela, Julius ficou esperando ele bater na pedra e cair, mas o periquito passou por um pequeno buraco e entrou na montanha.

— Não Julius! Pare! — gritou Laicão.

Mas, o elefante estava indignado e sem pensar duas vezes lançou todo seu peso contra a rocha que partiu no meio revelando uma caverna. Uma nuvem de poeira subiu e impediu que todos vissem a expressão de medo de Laicão.

Outros animais se amontoaram em volta e quando a poeira baixou viram Quito pousado sobre uma pedra, foram tomados de espanto quando viram Julius parado e em seguida se ajoelhando. De repente Laicão saiu correndo desesperado, ninguém entendeu, até que viram da caverna uma silhueta gigantesca saindo, logo em seguida um urro tenebroso que fez todos tremerem e, sobre a pedra um poderoso leão surgiu. Era Leo, o Rei, libertado de sua prisão pelo menor de seus súditos. O leão lançou-se em seu furor e só descansou quando caçou Laicão. Todos os outros animais maus fugiram.

— Vida longa ao Re!i — gritou Atena mais tarde.

— Viva! — Todos responderam.

— Viva longa a Quito o maior dos heróis!

— Viva! — O coro foi ainda mais forte.


Assim as Terras Escuras tornaram-se verdes novamente e o Reino dos Animais voltou a sua glória. Quito foi aclamado como o maior dos heróis de todos os tempos e provou que, mesmo o menor e mais fraco dos seres pode realizar coisas grandiosas.

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