João tinha vinte anos como motorista de ônibus e cinco na linha 66.6, todos os dias às 03:00 da manhã saia da rodoviária do Plano Piloto tendo como destino a Ceilândia, cidade satélite de Brasília. O “corujão” como são chamados os ônibus que trafegam pela madrugada, levava geralmente trabalhadores noturnos e curtidores da noite da capital do país. João já se acostumara com o horário e até gostava, geralmente tinha uma amizade com os passageiros por serem na maioria das vezes os mesmos. Suzana, um travesti, era a mais animada e como sempre entrou fazendo barulho: — Boa noite motora, é hoje que finalmente vou pegar na marcha? — Com bom humor João respondeu: — Não mesmo Suzi. Em seguida entraram os garçons Cláudio e Luis, os vigilantes Cabeça, Gordo e ET, um jovem calado que parecia ser estudante, mas que Suzi dissera que era gogo boy , e assim o ônibus ia tendo os lugares preenchidos na rodoviária, com exceção de dois. Toda a noite era assim e isso ...