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Mostrando postagens de 2014

O som da liberdade

O Som da Liberdade por Jefferson Nóbrega Em uma rua silenciosa de uma cidade silente. Em um país mudo de um planeta taciturno; um homem chamava a atenção. Quando ele passava as pessoas erguiam a cabeça e baixavam novamente. Pode não parecer nada espetacular, mas era; pois existiam pessoas que nasciam e morriam sem sequer olhar nos olhos de alguém. Ele se destacava na paisagem de prédios cinza e árvores secas, suas vestes brancas com tons azuis eram novidades onde o marrom mórbido dava o tom das roupas. Seus sorrisos e movimentos leves assustavam comparados à marcha mecânica que caracterizava todos. A barba e os cabelos grandes mostravam-se como uma grande novidade diante dos rostos perfeitos e iguais. — Bom dia. — Parecia não se importar com a falta de resposta. Também não demonstrava espanto com a rua engarrafada sem sequer uma buzina apitar. — Bom dia — repetiu para o jovem sentando em uma cadeira na calçada de uma lanchonete, segurava um cardápio por costu...

Tudo por serem poetas

Penso em parar de escrever, especialmente poemas e poesias, Notei que os poetas não são muito agraciados pela vida, Especialmente os homens, Perdem-se na boemia e nos sofrimentos dos amores, Amam intensamente, mas no final é a solidão que abraçam, Arquitetos de palavras no fim lágrimas os calam, E não é dor física que temo, É o fardo de conhecer o íntimo dos sentimentos, sem conseguir vivê-los da forma que escrevo, A vida é traiçoeira com os trovadores e a arte acentua suas dores, Suas aflições não são discretas, Ao coração são submissos, Tudo por serem poetas; Ou são poetas por isso?

A Carta

Remetente :  Jefferson Nóbrega Destinatário : Futuro amor da minha vida Brasília 29/08/2014 Futuro amor da minha vida, como você está?   Escrevo por que não vejo a hora de te encontrar, de ver seu rosto; conhecer-te. Aliás, eu já posso até tê-la visto, mas sabe como é, a vida tem nuances que nos cega às vezes. Peço que perdoe-me. Não sei como és, porém quero logo estar contigo. Não demore por favor, o tempo urge! Cada dia que passa são momentos que perdemos. Agora mesmo poderíamos está aqui no sofá, você com a cabeça em meu colo, perdendo-se em lágrimas por causa do filme enquanto faço pose de durão e derreto-me por dentro.   Fico imaginando como você é, acho que também pensas o mesmo. Sabe, provavelmente já nos encontramos e até gostei de você, algo deve ter dado errado, mas vamos nos topar novamente.   Você não deve ter notado que nascemos um para o outro por causa dos sofrimentos que já te causaram, isso gera medo e cega, entretan...

Sobre escolher demais no amor...

Pensamentos corroeram minha mente por toda a madrugada. “Você escolhe demais”, escutei essa frase de três mulheres em um único dia. Ditas em tons acusatórios, como se eu tivesse cometido um crime de lesa-majestade. Não seria um direito meu “escolher demais”? “Ah, mas quem escolhe muito fica sem nada”, é a réplica genérica. “Ficar sem nada” é um risco.  Todos que amam estão propensos à rejeição e solidão, a vida sem perigos não é vida.  O problema desse tipo de inculpação é que  jogam-me ao estereótipo “só quer peitos e bunda”. Geralmente redarguo: “Leste um dos meus contos, poesias ou poemas?”, se a resposta for não, finda-se tudo. Como ousam julgar os sentimentos de um escritor ignorando seus escritos? Mesmo que sejam ruins. É por sua pena que seu coração confessa-se e requesta-se com toda sinceridade. Se lessem saberiam que imputar-me o gosto por turbinadas é idiotice, afinal todas as minhas protagonistas são descritas como esguias, magrelas, selvagens e acima ...

Welcome to the Hotel California

Esse conto faz parte de um desafio que fazemos no grupo “ Escritores Desconhecidos ” no facebook onde a galera aqui do ONE tem se reunido. Junte-se a nós! Os trechos da música do Eagles ficarão em  itálico . Deixo a música traduzida caso queira conferir a letra antes: <iframe width="560" height="315" src="//www.youtube.com/embed/pPf9pn2TR9k" frameborder="0" allowfullscreen></iframe> Os faróis de um Mitsubishi conversível romperam a escuridão da estrada, onde antes reinava apenas o neon azul da placa do hotel. Felder estacionou meio relutante, pegou o celular, mas não tinha sinal. Passar a noite ali ou dormir no carro eram as únicas alternativas. Abriu a carteira e não gostou do que viu. “Droga! Esses hotéis que ficam no meio do nada custam o olho da cara”, pensou. Fechou a capota, abaixou o banco, ligou uma música do Eagles e para relaxar acendeu um baseado. Estava quase dormindo quando sua visão foi preenchida ...

Linha 66.6 – João, O Motorista

João tinha vinte anos como motorista de ônibus e cinco na linha 66.6, todos os dias às 03:00 da manhã saia da rodoviária do Plano Piloto tendo como destino a Ceilândia, cidade satélite de Brasília. O “corujão” como são chamados os ônibus que trafegam pela madrugada, levava geralmente trabalhadores noturnos e curtidores da noite da capital do país. João já se acostumara com o horário e até gostava, geralmente tinha uma amizade com os passageiros por serem na maioria das vezes os mesmos. Suzana, um travesti, era a mais animada e como sempre entrou fazendo barulho: — Boa noite motora, é hoje que finalmente vou pegar na marcha? — Com bom humor João respondeu: — Não mesmo Suzi. Em seguida entraram os garçons Cláudio e Luis, os vigilantes Cabeça, Gordo e ET, um jovem calado que parecia ser estudante, mas que Suzi dissera que era  gogo boy , e assim o ônibus ia tendo os lugares preenchidos na rodoviária, com exceção de dois. Toda a noite era assim e isso ...

A boa regra gramatical jamais deve ser uma camisa-de-força semântica nem sintática

Por Sidney Silveira - Blog Contra Impugnantes QUEM NÃO CONSEGUE apreciar as dissonâncias oriundas das quebras conscientes de algumas normas gramaticais em prol da expressividade ou da clareza jamais poderá ser verdadeiro escritor. O motivo é elementar: o uso virtuoso de um idioma jamais se limita aos ditames da ciência normativa da linguagem, à qual chamamos gramática, mas pressupõe o domínio de algo que lhe é anterior, a saber, a índole mesma da língua, constitutivo formal de que a própria gramática se vale para codificar tendências e potências jazentes na estrutura mental de uma coletividade de falantes e escreventes de qualquer língua que seja. Não se chega, portanto, a um nível de compreensão superior de nenhum idioma apenas com a leitura dos bons gramáticos, pois esta deve ser complementada pela inescapável recorrência aos grandes poetas e prosadores, que elevaram o padrão da linguagem conotativa ao estado da arte. Por isso a boa regra gramatical jamais deve ser uma camisa-de-f...

A conversão de um deus

Definitivamente Spuk é um deus mal. Não importa o que os sacerdotes do alto templo digam, não acredito neles. Spuk é o deus do mundo, os Louvadores dizem que sentado em sua cripta em Aviloan ele escreve nossas histórias com sua pena de misericórdia. Tenho uma visão diferente. Acredito que Spuk, em sua sodomia, gargalhe com nossa desgraça, pois desde que apareceu restou-nos apenas o caos. Há alguns anos tínhamos outros deuses. Rochedo, Senhor da Terra, Aurora Senhora dos Céus, Marinho, Senhor das Águas, Homo, Senhor dos Viventes e, Rajada, Senhora dos Ventos. Todos reinavam a partir de Aviloan, o grande monte redondo do céu noturno. Eu era criança, mas lembro de momentos bons. Vivíamos do que o mundo provia. Caça, pesca e colheita. Essa era a vida de todos em Camposverdes. Nós tínhamos uma pequena casa na Colina das Flores, atrás uma horta onde crescia nosso alimento e um pouco de nosso comércio. Ao lado o riacho proporcionava alguns peixes. Também descíamos em direção...