Pular para o conteúdo principal

Devaneios #3 - Tem uma cobra na minha bota!


Um dos grandes inimigos da felicidade, sem sombra de dúvidas, é a rotina. Ela simplesmente apaga a vida, transforma momentos mágicos em algo normal. Sim, seu dia a dia tem momentos mágicos, se não percebe nenhum então Ela também te abraçou e fez de ti seu escravo.
A vida tem várias maneiras de nos arrancar da rotina. Umas simples, outras pouco perceptíveis e algumas bruscas. O problema maior é quando as bruscas tornam-se imperceptíveis. Hoje tive um desses momentos.
Levantei com o despertador. Rotina.
Na pressa comi pão com café requentado. Rotina.
Corri para a parada aos 45 do segundo tempo. Rotina.
Três ônibus me servem. O primeiro passou lotado e não peguei. Rotina. 
O segundo não tão cheio, também deixei passar. Rotina.
No terceiro com acentos vagos próximos da janela eu entrei. Rotina.
Sentei no banco após a porta do meio, coloquei meus fones e liguei a música. Rotina.
Bom Dia do grupo 3030. Rotina
Com os óculos escuros tiraria meu cochilo do caminho. Ops, a conjugação do verbo já mudou, um “tiraria” apareceu. Lá se foi a rotina? Ainda não, estava bastante entorpecido por seu perfume.
Encostado observando a vida passar pela janela senti algo caindo no meu pé, olhei e vi que era colorido, de relance achei que era uma pulseira, dei um leve chute e percebi que se mexia, deduzi assim que era uma lagarta. Empurrei mais uma vez e, para minha surpresa era uma cobra. Sim, tinha uma cobra dentro do ônibus!
Durante algum tempo eu fiquei apenas olhando aquele animal, pensando como foi parar ali. Até o bordão do Woody saltou à ponta da língua: “Tem uma cobra na minha bota!”.
Pequena com uma coloração que lembra a cobra-coral ou a falsa coral, se enroscava em um parafuso tranquilamente. Como não sou um herpetólogo para saber se era venenosa ou não, achei melhor me afastar. Comentei comigo mesmo: “Uma cobra”.
Foi o suficiente para escutar um grito feminino do lado: “Cobra? Motorista para o ônibus tem uma cobra!”.
Então mulheres subiram nos bancos, gritavam e com olhos desesperados buscavam o “terrível” bicho.
Com um guarda-chuva peguei o animal e coloquei na rua, ainda com pausa para as fotos dos celulares curiosos que nunca param.
Após esse episódio, impressionantemente todos sentaram, encostaram, colocaram seus fones ou fixaram-se nos celulares e voltaram aos seus afazeres rotineiros.
Imediatamente também peguei meu smatphone e comecei a escrever esse texto, chocado com o fato de que nem uma situação tão insólita como essa é capaz de arrancar as pessoas da rotina.

Talvez seja necessário aparecer uma anaconda.
Para ler mais Devaneios clique aqui.
Na categoria "Devaneios" são postados textos que surgem na minha cabeça do nada e desaparecem com a mesma rapidez, ficando uma verdadeira loucura de palavras muitas vezes com final desconexo. Ou seja, loucura total. rsrs. Também é onde posto minhas crônicas. Comenta e diga o que achou. 

Comentários

Postagens mais visitadas deste blog

Origem do nome Nóbrega

A imagem acima  é de uma estela funerária datada do séc. II d.C – III d.C encontrada na Avenida da Liberdade em Braga, Portugal. O seu texto faz referência a cidade romana de Elaneobriga e encontra-se exposta no Museu D. Diogode Sousa em Braga. Diz a estela: SEVERVS REBVRRI F(ilius) TIOPHILVS (sic) ELANEOBR/IGENSIS (sic) NA(norum) XXXX SOD ALES FLAVI D(e) S(uo) F(aciendum) C(uraverunt) Tradução: Severus Tiophilus, filho de Reburrus, de Elaneobriga, com 40 anos. A Confratia dos flavianos tomou a seu cargo erguer (este monumento). Civitas Elaneobriga A localização de Elaneobriga ainda não é conhecida, em 1954 no documento "Novíssimas inscrições romana de Braga. "Brancara Augusta", vol. 4 (25). Braga: Câmara Municipal, pág. P. 242-249", Arlindo Ribeiro da Cunha, indica a atual região de Ponte da Barca como a possível localização da cidade.  Monte onde foi erguido o Castelo da Nóbrega  Esta região era conhecida por Terra da Nóbrega  ou Anóbrega ...

Os Segredos, por Kvothe (O Temor do Sábio Patrick Rothfuss)

Mesmo se não tiver lido o livro, recomendo a leitura desse trecho,não será nenhum spoiler, fique tranquilo. É simplesmente fenomenal. Quisera eu um dia poder incluir em meus contos uma reflexão dessas: Os segredos são dolorosos tesouros da mente. A maioria do que as pessoas pensam como segredo, na verdade, não é nada disso. Os mistérios, por exemplo, não são segredos. Nem o são os fatos pouco conhecidos ou as verdades esquecidas. Segredo, é um conhecimento verdadeiro que é intencionalmente ocultado. Os filósofos discutem há seculos os pormenores dessa definição. Assinalam os problemas lógicos que existem nela, as lacunas, as exceções. Em todo esse tempo, entretanto, nenhum deles conseguiu chegar à uma definição melhor. O que talvez diga mais do que todos os sofismas combinados. Há dois tipos de segredos: Os da Boca, e os do Coração. A maioria deles é da boca. Boatos compartilhados e pequenos escândalos sussurrados. Há segredos que anseiam por se largar no mundo. ...

D. Ourigo Ourigues - o progenitor dos Nóbregas e dos Aboim

Ourigo Ourigues – o Fidalgo ou o Velho da Nóbrega – foi companheiro de luta de D. Afonso Henriques (primeiro Rei de Portugal) nas batalhas de S. Mamede (1128), de Coneja (1137), de Ourique (1139) e de Arcos de Valdevez (1140) bem como seu Castelão-Mor . D. Ourigo reconstruiu nos primórdios da Nacionalidade, a mando de D. Afonso Henriques, o poderoso Castelo de Aboim (tinha sobre a sua alçada o Castelo de Lindoso), que pensa-se ter surgido como Castro na idade do ferro destruído posteriormente pelos Árabes no século VIII. Por conseguinte, D. Ourigo Ourigues faz parte do quadro de honra dos cabouqueiros da Nacionalidade Portuguesa. O que lhe dá a glória de alinhar no número daqueles que foram os primeiros Infanções Portugaleses, e que lutaram pela realidade que é Portugal . O Castelo de Aboim situa-se na confluência das freguesias de Aboim da Nóbrega, Azias e Sampriz, no lugar de Casais de Vide a uma cota de 775 metros. A sua fortificação defensiva constava de um fosso e dois...