quinta-feira, 1 de maio de 2014

Armaduras

Acusaram-no de amar! Sim, isso às vezes soa como acusação.

A primeira vez que ele disse que amava, acreditava fielmente nisso, mas o tempo tratou de denunciar seu engano. O outro “eu te amo” já saiu meio às dúvidas pela experiência do primeiro e, onde há incerteza perdura o amor não se alicerça. Também falou um “eu te amo” com todo o fervor que sua alma possuía e teria repetido isso por toda vida, no entanto, a ouvinte dessas palavras brincou com elas e descartou-as. Esse foi o mais doloroso.

Todavia, uma coisa é fato: ele nunca disse um “eu te amo” sabendo piamente que não amava. Pois, o erro é inerente ao ser humano, mas a enganação, principalmente sentimental, é uma chaga no caráter e desprezível.

Todas as tropas partiram para o norte, ele marchava para sul. Contra a corrente, frente à honra. Chamaram-no de covarde e, para um cavaleiro não há ultraje pior. Ele engoliu as injúrias, não por ser realmente covarde, mas justamente, porque pela primeira vez na vida estava sendo verdadeiramente corajoso. Não havia espada que vencesse a sua em todo o reino, enfrentou as mais terríveis feras, venceu guerreiros sanguinários e, agora percebia que nunca fora corajoso de verdade. A verdadeira valentia está em seguir o coração.

Teria sido mais fácil se ela fosse uma simples donzela acomodada com seu destino recheado de clichês. Não era. Ela tinha sonhos, objetivos e personalidade. Destruiu o muro de autodefesa que envolvia o coração dele. E fazia-o mover-se sem ter a mínima noção do futuro, sem planos, apenas querendo viver.

Quando ele finalmente achou que estava amando e sendo amado; ela partiu.

Como entender? A razão simplesmente é sepultada quando o peito sente-se amassado e quando os pensamentos mergulham no caos da rejeição.

“Você precisa ser livre”, dissera o bilhete de despedida. Não tinha compreendido o real sentido daquelas palavras até aquele momento.

Do alto da colina uma pequena vila vencia o horizonte, sentada embaixo de uma árvore estava uma moça, seus cabelos escuros cacheando-se ao vento e os olhos negros focados em um livro surrado.

Ele desceu do cavalo, tirou a armadura, pois não havia necessidade de defender-se, jogou a espada, não precisava mais ferir para não ser ferido. Livrou-se das botas e sentiu o chão e, com o elmo lançado ao ar entregou-se à vulnerabilidade.

Seus olhares cruzaram-se.

Ambos correram. Seus sorrisos reacenderam o sol que estava prestes a esconder-se. E quando finalmente se abraçaram, ele tocou seus cabelos, acariciou sua pele morena.

— O amor — Disse ele ofegante.
— Nos faz livres. — Ela completou.

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