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Memórias de um Guerreiro Orgulhoso

Nosso povo pode ser dividido em três categorias: Guerreiros, escravos e bárbaros (alguns os chamam de selvagens). Não cabe a nós a escolha, nascemos e somos o que somos. Poucos conseguiram mudar isso e não fui um desses. Pelo contrário, nasci guerreiro e sempre tive orgulho disso.

A linhagem de minha família pode ser traçada até os maiores soldados que nosso povo viu. Nós estávamos lá com os Templários atacando os mouros em Jerusalém, vencemos desertos com os Teutônicos, libertamos reinos, fundamos impérios, foi graças a nossa força que o mundo tornou-se o que é. Infelizmente poucos reconhecem isso.

Minha família ajudou na libertação do reino de Portugal e com um tempo desembarcou nas Terras de Santa Cruz, hoje chamadas de Império do Brasil.

Quantos eu empurrei para morte? Não sei. Sobre quantos cadáveres andei? Impossível contá-los. O sangue nunca me assustou, a morte nunca foi problema e isso me transformou em um guerreiro inabalável.

Nesse momento estou ao lado de milhares e acompanhando meu general na província de Cisplatina, se morrerei não me importo, se esse é meu destino partirei orgulhoso ciente das glórias que vivi.

Que venha a guerra, pois para isso nasci e fui forjado!

Tiraram-me de meu imperador exclusivamente para essa missão e, se depender de minha vontade não haverá retirada, avançarei no território inimigo até que todos caiam ou que eu mesmo encontre o chão ensopado de sangue. Sangue do meu povo, sangue dos brasileiros e sangue dos inimigos.

E caso eu morra, partirei com a memória daquele dia na cabeça. O mais glorioso de minha vida! Ah, jamais esquecerei. O dia era lindo, mas ninguém imaginava que seria histórico. Uma brisa afagava, as águas do riacho corriam plácidas e às margens nós marchávamos, estava ótimo para estufar o peito e mostrar para todos importância e imponência. Foi quando um primo chegou em disparada acompanhado de seu senhor. Estava ofegante, paramos para saber o que causava tanto desespero. Como superior exigi:

— Diga-me que notícia o fez correr de tal forma? — Ele ignorou-me. — Ousa desdenhar de meu questionamento? — Exigi resposta.

— Desculpe senhor, mas é melhor ver por si só. — Respondeu.

Só então notei a agitação, meu Imperador lia a carta seriamente, suspirou, conversou em voz baixa com seus companheiros durante um bom tempo, sussurros eram ouvidos de toda parte. Porém, de repente senti a tensão aumentar. Ele desembainhou sua espada, mesmo não identificando ameaça preparei-me. Um silêncio repentino baixou sobre o local e sua voz soou em um brado de arrepiar:

— Independência ou Morte!

 Puxou minhas rédeas e imediatamente empinei transformando aquele sete de setembro em algo inesquecível. Nunca vou esquecer os gritos. O júbilo nos rostos de todos e, principalmente a sensação de que assim como meus antepassados, deixei minha marca na história.

Hoje já não sou mais montado pelo Imperador, porém tal fato não me afeta. Existo para servi e servi com honra. É isso que somos! Não sei como meus primos livres vivem, mas acho que tive uma vida boa.

— Vamos, garoto, corra! Vamos massacrar esses tolos!

A ordem foi dada e agora corro para o campo de batalha. Talvez por isso tanta reflexão. É bom sentir o vento contra minha crina, o gosto da batalha, a terra pulando com minhas pisadas e a morte aproximando-se. Fico pensando: se não fosse minha linhagem talvez eu morresse de exaustão puxando carga. Não, é melhor afastar esse pensamento.

— Venham inimigos! Venham patriotas orientais, mostrarei que a Província de Cisplatina é nossa! Eis a melhor forma de morrer, mas antes disso irei pisoteá-los até que seus crânios afundem na terra!

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