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Alvoroço no Jardim do Éden

   
     Estava tranquilo, recostado em uma moita, mordicando uma bela e laranjadíssima cenoura, quando minhas grande orelhas dectetaram um possível tumulto. Mal levantei meus atentos olhos e um cervo quase esmagou-me ao saltar sobre as cinerárias ao meu lado. Foi nesse momento que vi a terrível confusão. Mamíferos, répteis, aves — até peixes! — corriam, voavam, nadavam ou rastejavam alucinados pela floresta. Vinham de todas as partes, um leão que vivia na margem do Pison passou imponente e ofegante, uma pantera que habitava perto do Ghion cruzou minha frente rápida como o vento, um pássaro da região do Tigre, voava baixo conversando com os seres terrestres. Não compreendia o que era aquela algazarra. Avistei uma lebre do Eufrates; corri e gritei:

     — Parente o que se passa?
     — Me siga, parente — respondeu — parece que Yahweh está trabalhando em mais uma grande obra.
   
      Então, como todos, corri o mais rápido que pude sem saber sequer para onde iria.
     Depois de algum tempo naquela louca maratona, finalmente chegamos. Estávamos próximos da Árvore da Vida, o silêncio imperava, na clareira consegui ver apenas o Homem e o Senhor. Mas, todos se entreolharam quando escutamos Adão exclamar em um grito de felicidade nunca ouvido:

     — Eis agora aqui, o osso de meus ossos e a carne de minha carne; ela se chamará mulher, porque foi tomada do homem!

     Mulher. Eu nunca tinha visto criatura tão bela. Contemplava-mos boquiabertos a mais perfeita de todas as obras do criador. Feliz por ter presenciado esse momento sublime, fui saindo juntamente com os outros. Tive que dar um tapinha na serpente para que ela despertasse do transe. Entendia ela, era impossível não ficar hipnotizado.

Conto escrito em homenagem ao Dia Internacional da Mulher.

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