terça-feira, 28 de maio de 2013

Este, esta, isto, esse, essa, isso: Pronomes demonstrativos, dêixis, anáfora e catáfora

Até o momento o texto mais elucidativo que encontrei sobre o assunto. Retirado do recomendado Uol Educação, de autoria Jorge Viana de Moraes mestre em Letras pela Universidade de São Paulo.

Observe os seguintes pronomes demonstrativos: este, esta, isto, esse, essa, isso. Como veremos, há diferenças de usos desses pronomes quando se fala e quando se escreve. Para tentar explicar essas diferenças, recorreremos à linguística textual.

A linguística textual nos ensina que um texto, para ser bem construído, ou seja, para ter textualidade (textualidade é o que faz de uma sequência linguística um texto e não um amontoado de frases ou palavras), tem de ter, basicamente, coesão e coerência.

Como se sabe, a coerência estaria ligada à possibilidade de estabelecimento de um sentido para o texto. Tal sentido obrigatoriamente tem de ser do todo, uma vez que a coerência é global. A coesão, por sua vez, estaria ligada, segundo os estudiosos dessa área do conhecimento, às partes superficiais, lineares, em outras palavras, à questão propriamente linguística do texto. De modo que a coesão seria obtida, parcialmente, através da gramática e, parcialmente, através do léxico.

Para o objetivo do nosso estudo, nos deteremos somente aos fatores de coesão. Sendo assim, os principais fatores de coesão textual, segundo Fávero e Koch (2002, p. 38), são: a referência, a substituição, a elipse, a conjunção (conexão) e a coesão lexical. Restringindo ainda mais este estudo, de acordo com nosso propósito, vejamos o que seja a referência.


Referência

Referência é definida, por Haliday e Hasan (1973), como um movimento de recuperação de elementos, que estão tanto dentro quanto fora do texto. Para separar esses dois tipos de referência, os autores denominaram exóforas as referências situacionais e endóforas as textuais.

As referências endofóricas se subdividem em aquelas que se referem a elementos anteriores (denominadas de anáforas) e aquelas que se referem a elementos posteriores (as catáforas). Acrescentamos aqui a noção de dêixis (ou díxis) à referência situacional (exofórica). Esquematicamente (de acordo com Fávero e Koch):



 A dêixis (ou díxis) designa o conjunto de palavras ou expressões (expressões dêiticas) que têm como função "apontar" para o contexto situacional (exófora) de uma dada interação.

 

Pronomes demonstrativos em função dêitica ou exofórica

Acreditamos que, deste modo, facilita-se o entendimento do uso dos pronomes demonstrativos, na medida em que o deslocamos para o quadro geral da teoria da enunciação. Ou seja, para dentro da cena da interação linguística face a face, em que o uso dos pronomes demonstrativos se faz mediante a função dêitica (espacial), por quem fala no momento em que fala. Assim:

a) Esta cadeira está quebrada. (= Esta cadeira [aqui perto de mim que falo, primeira pessoa do discurso] está quebrada.)
b) Passe-me essa caneta, por favor! (= Passe-me essa caneta [que está aí perto de você a quem falo, segunda pessoa do discurso], por favor).
c) Isso é seu? Refiro-me a essa bela gravata que está em seu pescoço.
d) Isto é meu! Estou falando deste relógio que está em meu pulso.



Pronomes demonstrativos em função endofórica ou textual

1. Por meio da anáfora (isto é, ao que precede) estabelece-se uma relação coesiva de referência que nos permite interpretar um item ou toda uma ideia anteriormente expressa no texto, por exemplo, pelos pronomes demonstrativos essa, esse, isso, como a seguir:

a) "Como é que se pode comprar ou vender o céu, o calor da terra? Essa ideia nos parece estranha." [= Essa ideia de poder comprar ou vender o céu, o calor da terra.]
(Trecho da carta do Cacique Seatle, da nação Duwamish, da América do Norte, dirigida em 1855 a Franklin Pierce, presidente dos E.U.A. Traduzida por Irina O. Bunning.)

b) "Busquei, primeiro, o amor porque ele produz êxtase [...]. Eis o que busquei e, embora, isso possa parecer demasiado bom para a vida humana, foi isso que - afinal - encontrei." [primeiro "isso" = a busca do amor; segundo "isso" = o amor].
(Bertrand Russel. Autobiografia. Rio de Janeiro, Civilização Brasileira, 1967)

c) Pedro foi preso como estelionatário. Esse cara nunca me enganou. [Esse cara = Pedro].

2. Um elemento de referência é catafórico quando sua interpretação depender de algo que se seguir no texto; aqui, ele será representado pelos pronomes demonstrativos esta, este e isto. Exemplos:

a) Estas foram as últimas palavras do meu mestre: seja sincero com seus discípulos.
b) Quando saí de casa, meu pai me disse isto: seja bom, ame o próximo, e respeite a vida.
c) Este foi um divertido anúncio de uma revista: "Cara, se, tipo assim, o seu filho escrever como fala, ele tá ferrado!".

Jorge Viana de Moraes, Especial para a Página 3 Pedagogia & Comunicação é mestre em Letras pela Universidade de São Paulo. Atua como professor em cursos de graduação e pós-graduação na área de Letras.

Bibliografia

  • FÁVERO, L. L. e KOCH, I. G. V. Linguística Textual: introdução. São Paulo: Cortez, 2002.
  • HALLIDAY, M. A. K. E HASAN, R. Cohesion in English. London: Longman, 1973.

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